terça-feira, 6 de novembro de 2007

Espaços de pedra


Há alguns anos que frequento as pousadas de Portugal e devo confessar que estou viciada por todos aqueles espaços. Estive recentemente na pousada de Santa Maria do Bouro, em Amares. A restauração deste edifício (um antigo mosteiro Cisterciense do século XII) é um produto do arquitecto Eduardo Souto Moura. De acordo com a severidade do mosteiro, mas com uma confortável e moderna decoração, esta Pousada, cheia de surpresas, é um verdadeiro tesouro a descobrir no Minho. Já no seu interior, à entrada, deparamo-nos com "os vermelhos" do pintor Ângelo de Sousa e, à medida que a nossa caminhada progride, encontramo-nos com trabalhos de outros pintores como Rui Paes. Os tectos altos erguidos por blocos de pedras convidam a tranquilidade necessária e o crapitar da madeira em lareiras sumptuosas leva-nos a experimentar tempos que não são os nossos, mas onde nos sentimos confortáveis. A organização de pedras gigantescas que sustentam a estrutura evoca o poema Por esse grande espaço aumentado pelo tempo, de Carlos Poças Falcão. Aqui fica a descrição mais adequada àquele edifício:

Por esse grande espaço aumentado pelo tempo
a luz queima-se em fulcros e desaparece.
Estão perto do vazio as grandes regiões,
despenham-se do alto, sobem, tumultuam.
A essa velocidade a luz chega atrasada
aos meus limites, desfocada por ruínas
que a toda à volta ruem, sobem, tumultuam.
São outras regiões, horas diferentes, sons
que me não pertencem e meus estranhamente.
Longos céus e raros planaltos, noites, dias
que trabalham tumultuosamente. Veios
a desatar o corpo. Abolições. Torturas.

Poema extraído do livro Três Ritos, de Carlos Poças Falcão

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