sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Fim-de-semana com a "Cadeia da Relação"


Aconselho vivamente, para este fim-de-semana, uma visita à Fundação de Serralves onde se pode encontrar, entre outros, Júlio Pomar, um dos artistas portugueses mais reconhecidos, expõe algumas das suas primeiras experiências produzidas nas décadas de 60 e 70.
Esses trabalhos baseiam-se no domínio da colagem e da “assemblage”, dos quais resulta um confronto entre a tela crua e a cor para demonstrar como, desde então até à sua obra mais recente, estes processos e técnicas são indissociáveis da interrogação e das práticas da pintura na sua obra. Neste sentido, “Cadeia da Relação” é uma exposição focada na evidência dos materiais e nas suas relações estruturantes da composição do quadro ou do objecto. A exposição intensifica-se à medida que avançamos, pelo interessante jogo e sobreposição de tecidos e materiais diversificados, não esquecendo também a mistura de cores, factor essencial para o desenvolvimento dos sentidos. Algumas vezes as telas parece quererem vomitar para o mundo exterior o seu próprio mundo, outras vezes é o expectador que sente o impulso que querer entrar para o mundo da tela. A não perder.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Ruy Belo

Hoje, 27 de Fevereiro, Ruy Belo completaria 75 anos.
Neste sentido, em assirio.pt pode adquirir os livros deste autor com 30% de desconto.
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«Passeou pelos espelhos dos dias
suas clandestinas alegrias
que mal se reflectiram desertaram»

Ruy Belo

São João da Ribeira (Rio Maior), 27 de Fevereiro (de 1933 – Queluz, 8 de Agosto de 1978)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Novidades Assírio Alvim


Jade foi abandonado pela mãe num medronheiro. Um dia, uma criança encontra-o e adopta-o.
Jade torna-se o seu único companheiro de brincadeiras (no Jardim da Estrela e na praia) e, em troca, a
criança ensina-o a ler. Um dia, Jade desaparece, mas a criança continua a conseguir vê-lo.
Reúnem-se neste livro a escrita de Maria Gabriela Llansol e uma selecção dos desenhos de Augusto
Joaquim feitos sobre o texto Amar um Cão.
“______ houve uma breve hesitação da parte de quem transportava o recém-nascido ______ o
meu cão Jade, há muito tempo; muito, e com grande intensidade, aconteceu durante esse tempo breve
em que Jade foi deixado suspenso sobre um medronheiro, sem mãe visível,
num berço nem celeste,
nem terrestre. No lugar que toda a planta acolhe, e que o entregara ao medronheiro,
sentia sobre si uma incidência animal alada,
que nem era verdadeiramente pássaro,
nem verdadeiramente quadrúpede.”
in Desenhos a Lápis com Fala - Amar um Cão

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Em busca das visões vegetais

Corpo de batráquio

Os poemas de Fiama não podem apenas ser vistos como um espaço no qual é possível reconstruir mecanismos da experiência que se plasmam em universos metafóricos e imagéticos pessoais, sem mais consequências. Os modos próprios dessa experiência pessoal vão-se acastelando em verso para configurar o tormento, obrigando a poetisa a ser tão lúcida que o compusesse. Assim, o poema é o suplício que a desperta do estado de felicidade para o estado da razão. O adjectivo feliz acusa a sua durabilidade, enquanto o seu corpo se prolonga até à forma de batráquio, podendo permanecer de ventre colado à grande mancha , onde emite sons para fugir à consciência da Poesia. Quando assim não acontece, a poetisa perde o paraíso. No entanto, não existe um esforço hercúleo em não abandonar os jardins onde a baba dos sapos segue um labirinto quando aceita que a Poesia lhe debique nas pálpebras. Contudo, verificamos que ao escrever o poema ficamo-nos sempre pelas palavras, ou melhor, por esta terrível impotência.[1] O poema escrito acaba por ser sempre um suplício, por isso, essa indizível, e sempre dita, tristeza que vigia a criação do poema é a única tristeza do seu mundo vegetal.
Fiama escreve estes versos, como todos os outros que constituem a Área Branca, emocionada, cheia de espanto, de intuições e de perplexidade: percebemos logo que as condições que geram estas modulações de tons que sobem são únicas e irrepetíveis, ainda que a circunstância seja um poema. As vivências de Fiama são como reflexos que enchem todo o seu espaço, um espaço inacessível como o das imagens do outro lado do espelho. Ao olharmos os versos, reparamos que, ao contrário do que acontece com outros poetas contemporâneos, não se despojou das metafísicas, como se tivesse entrado numa zona comercial, disfarçando-se e deleitando-se em artifícios e jogos, desdobrando-se em metalinguagens e intertextualidades. Pelo contrário, este poema segue uma despossessão de artifícios ao nível da linguagem altamente pertinente e parecem correr em verso com uma naturalidade invejável.
Quanto à estrutura física do poema, constatámos algumas incoerências em relação ao conteúdo. Neste sentido, adivinhar-se-iam versos fragmentários desprovidos de qualquer cuidado formal, tendo em conta o sentimento da poetisa ao ter que concretizar no poema as suas vivências. De facto, a sua criação não se processa desta forma. Podemos ver que as cinco estrofes que compõem o poema são densas e aglomeram-se, tornando-se extremamente longas, onde quase não existe espaço para que possamos respirar. O poema, desta maneira elaborado, personifica o tormento da lucidez e a racionalização da escrita que a obrigam a ser lúcida. É deste estado doloroso de razão que são construídos os versos longos, interrompidos por três curtos – Mas eu era feliz/ Onde eu tinha/ Rouca – quando a poetisa evoca a memória do tempo em que tinha olhos redondos extraídos do interior da terra. A memória desse tempo, pertencente ao momento originário, condiciona o pretérito imperfeito e mais-que-perfeito. Estes tempos verbais quando interrompidos pelo pretérito perfeito geram como que faíscas no consciente, consumando o verso: O poema atormentou-me. Assim, o pretérito perfeito é a ponte entre o estado inconsciente e a razão.


[1] Frase extraída de uma carta do poeta Trakl a um seu amigo Erhard Buschbeck.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Primeiro inverno sem Fiama

Sobre a Área Branca de Fiama Hasse Pais Brandão
Do momento originário ao poema: o estado da razão (Parte II)

Uma das características essenciais da não lógica Zen é a simetria. A razão disso é intuitiva, na medida em que a simetria representa sempre um módulo de ordem, o efeito de um cálculo. Para Fiama, o efeito desse cálculo é o poema que a obriga a ordenar os momentos indizíveis. Para se despossuir do estado de tormento seria basilar afastar-se da consciência da Poesia que tende a racionalizar os momentos idílicos de fusão com a Natureza. Os poemas que constituem a Área Branca não são nem meramente, nem principalmente representativos, porque a poesia não é apenas encarada como uma representação da natureza, como atrás falávamos, mas assumindo, ela própria, um trabalho da natureza. Fiama não vê rígidas divisões entre espírito e natureza, sujeito e objecto, bem e mal, artista e meio.
O poema é uma espécie de sonho da razão que produz a experiência diurna de forma alterada, ou seja, reinventada e transposta num plano em que a conivência com o momento originário seja uma conversão e não uma tradução; uma ficção e não uma reprodução. Então o verbo atormentar – de uso comum na poesia de Fiama – surge porque não existe uma identificação do sujeito com a realidade que apela à consciência e à racionalização dos actos. Por isso, a poesia a atormenta, obrigando-a a racionalizar os sons. Queremos com isto dizer que Fiama apenas consegue nomear os objectos que, por sua vez, estão representados por sinais. Logo, só poderá falar deles e nunca exprimi-los, pois um poema só pode dizer como uma coisa é, não o que ela é.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Primeiro inverno sem Fiama


Sobre a Área Branca de Fiama Hasse Pais Brandão
Do momento
originário ao poema: o estado da razão (Parte I)

Quando lemos a Área Branca de Fiama torna-se pertinente, antes de mais, ter em conta que, para valermos alguma coisa temos que reconhecer o outro como parte de um mesmo corpo, uma vez que há nos seus poemas um momento originário que é o instante em que a poetisa existe com a Natureza. Neste sentido, não podemos pressupor uma partilha, pelo contrário, ela é também a Natureza.Devemos entender que há um espaço profundo habitado por duas entidades que se fundem – os elementos naturais e o Homem. Contudo, este instante e espaço são indizíveis, pois nada na Natureza é uma hipérbole, por isso, ela nunca poderá ser manifestada num poema como ela é. Ora, Fiama não traduz nem representa a Natureza, porque este é produzido num estado consciente, ou melhor, o poema é a racionalidade do momento originário, alimentado pelas imagens de Naturezas calmas . Assim, o tormento tatuado em cada verso é uma penitência que a poetisa cumpre quando se sente obrigada a descolar o ventre da grande mancha/ de água para compor o poema. A lucidez a que obriga essa composição transforma-se numa claustrofobia que se manifesta em relação à materialização desse momento de amálgama verde, verde . Estamos, então, perante versos panteístas que nascem de uma fusão implícita do sujeito poético com a Natureza. Esta filosofia tem por princípio que toda a diversidade de seres é uma ilusão dos sentidos que tende a ver diferenças onde só existe igualdade. Por isso é que a poetisa existe com a Natureza, uma vez que tudo é uma manifestação de uma mesma energia cósmica, já como para Espinosa a lei suprema da realidade única e universal é a necessidade. Desta forma, tudo é necessário na natura naturata. Deus não só é racionalmente necessitado na sua vida interior, como se manifesta sobretudo no mundo em que, por sua vez, tudo é necessitado: a matéria e o espírito, o intelecto e a vontade.
Apesar de assentarem em algumas diferenças, panteísmo e Zen convergem, na medida em que o sujeito poético não recusa a socialidade tout court, esta recusa manifesta-se ao nível de uma socialidade conformista para procurar uma outra, mas espontânea, cujas relações se fundem numa adesão livre e feliz, cada um reconhecendo o outro como parte de um mesmo corpo universal. Contudo, a filosofia Zen vinha esclarecer que o universo, como um todo, é mutável e indefinível; tendo em conta que a ordem dos acontecimentos é uma ilusão. Por esse motivo, a divindade está presente na viva multiplicidade de todas as coisas.


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008



Da despossessão
apenas o prefixo
compõe a palavra,
desarma-a de toda a sua posse,
dando-lhe o verdadeiro sentido.



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Óbidos com recheio de chocolate

Hoje valerá a pena passar pela maravilhosa vila de Óbidos, pois começa a sexta edição do Festival Internacional de Chocolate. Na edição deste ano, que tem início marcado para o Dia dos Namorados, há uma aposta na relação entre o chocolate, a sedução e o cenário romântico de Óbidos. Condimentos essenciais para um dia perfeito.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Foi descoberta a galáxia mais distante do universo


"Imagens detalhadas obtidas pelos telescópios espaciais Hubble e Spitzer da NASA revelaram a existência de uma das galáxias mais distantes até agora observadas, formada há 13 mil milhões de anos, afirmam astrónomos norte-americanos e europeus. A galáxia, designada A1689-zD1, foi captada pela Câmara no Infravermelho Próximo e Espectrómetro para Objectos Múltiplos (NICMOS) do telescópio Hubble e pela câmara infravermelha do Spitzer, e ter-se-á formado 700 milhões de anos depois do nascimento do Universo. Segundo a Agência Espacial Europeia (ESA), as imagens mostram a galáxia num momento de transformação na "idade escura", quando se formaram os primeiros objectos luminosos, pouco depois do "Big Bang", mas antes da formação das primeiras estrelas. "


Texto extraído do jornal Público on line

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008




Lua
substantivo feminino
da beleza circular das coisas.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

"O Estado das Coisas"


Vai ser promovido um debate, pela Fundação de Serralves, sobre o estado do nosso país. Este ciclo de debates vai ao encontro de algumas das questões que temos levantado neste blogue, até porque um dos factores interessantes é que, entre os participantes - políticos, investigadores e empresários, reservou-se um lugar para os filósofos, amigos do saber. Resta-nos esperar que os deixem falar...
Porém, não podemos deixar de reparar que a penúltima sessão (portanto, em penúltimo lugar) será dedicada à cultura e os que comentarão esta questão tão nobre serão como do costume, aqueles que lideram.


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O Começo


Nasce um átomo
outro
e mais outro.
Desta gradação crescente
resultou o mundo
e a partir daí
nada mais voltou a ser a mesma coisa.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

"Never forget, never forgive"


Sempre apreciei o trabalho de Tim Burton, porque ele assina os filmes com imaginação e originalidade. No seu livro A Morte Melancólica do Rapaz Ostra e outras Estórias publicado, em Portugal, pela editora Antígona, podemos ler, a páginas tantas, uma quadra sobre A Rapariga com Olhos Fora de Série que passo a transcrever: Conheci uma rapariga/ que era fora de série,/ pois do sério arrancava/ tudo aquilo que fixava. Pois bem, o mesmo se passa no filme "Sweeney Todd". Mas desta vez, os olhos são de um rapaz, terrível barbeiro, que como a rapariga do olhar fora de série "arrancava"/ matava tudo aquilo que fixava, pois o seu olhar denunciava uma vingança avassaladora pela vida feliz que lhe fora roubada. Desta forma, o filme assemelha-se a uma peça de teatro em tela de cinema, pela interpretação dos actores, pela postura "em palco", pela cor, mas sobretudo pelo tom trágico de como se desenrola a cena e de como termina - à semelhança de uma ópera. Assim, o filme culmina com a mulher do barbeiro morta por ele próprio, nos seus braços, como Gilda na ópera Rigoletto, de Verdi. Não considero o filme uma obra prima, mas considero que é essencial ir vê-lo.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Anarquia (observação quarta)


A Apóstrofe de Proudhon

Ser governado é ser vigiado, inspeccinado, espiado, dirigido, legislado, regulamentado, cercado, endoutrinado, convencido, controlado, contado, avaliado, censurado, comandado por seres que não têm nem o título, nem a ciência, nem a virtude... Ser governado é ser, em cada gesto, em cada transacção, em cada movimento, notado, registado, recenseado, taxado, timbrado (...) emendado e corrigido.

Prouhhon, Idée générale de la Revolution au XIX siècle.

Assim deve ser uma sociedade regrada. Em primeiro lugar, deve ser incutido no indivíduo a necessidade de precisar de alguém que lidere e de poder, entrando em cena os que não têm título, nem ciência, nem virtude. Em segundo lugar, o então cidadão deve ser manipulado e devidamente registado, para que, das suas atitudes, não escape nada. Em terceiro lugar, aqueles que são desprovidos de título, de ciência e de virtude devem fazer com que o indivíduo se sinta numa posição de contribuição para que o mesmo perceba que ele próprio faz parte do poder e, acima de tudo, é um ser de utilidade pública. É caso para dizer: A máquina do Estado faz coisas fantásticas, não faz?

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Mais um leilão promovido pela Livraria Manuel Ferreira


A Livraria Manuel Ferreira promove mais um importante leilão de uma valiosa Biblioteca particular, constituída por cerca de 500 raras espécies bibliográficas, cujos autores principais vão abaixo referidos.
De salientar que o primeiro lote do leilão será constituído por um precioso conjunto de 888 cartas autografas, onde se incluem alguns bilhetes postais, todos dirigidos pelo Poeta José Régio ao também Poeta e seu querido amigo Alberto de Serpa, (algumas com desenhos de José Régio), tratando importantes assuntos de natureza literária, com incidência para a publicação de livros de ambos e de particular importância para a história da publicação da revista «Presença» e outras; no segundo lote serão apresentadas sete cartas autografas de Abel Salazar.
Do leilão constam ainda muito raras primeiras edições de obras, cujos autores vão de Almeida Garrett a Miguel Torga, passando por, entre muitos outros, Alexandre Herculano, Camilo Castelo-Branco, Antero de Quental, Guerra Junqueiro, Eça de Queirós, Wenceslau de Morais, Eugénio de Castro, Teixeira de Pascoais, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, José Régio, António Botto, Almada Negreiros, etc., apresentando muitas delas valiosas dedicatórias dos Autores.

A REALIZAR NO PORTO NO SALÃO NOBRE DA JUNTA DE FREGUESIA DO BONFIM
DIA 16 DE FEVEREIRO, ÀS 15 HORAS