Sobre a Área Branca de Fiama Hasse Pais Brandão
Do momento originário ao poema: o estado da razão (Parte I)
Do momento originário ao poema: o estado da razão (Parte I)
Quando lemos a Área Branca de Fiama torna-se pertinente, antes de mais, ter em conta que, para valermos alguma coisa temos que reconhecer o outro como parte de um mesmo corpo, uma vez que há nos seus poemas um momento originário que é o instante em que a poetisa existe com a Natureza. Neste sentido, não podemos pressupor uma partilha, pelo contrário, ela é também a Natureza.Devemos entender que há um espaço profundo habitado por duas entidades que se fundem – os elementos naturais e o Homem. Contudo, este instante e espaço são indizíveis, pois nada na Natureza é uma hipérbole, por isso, ela nunca poderá ser manifestada num poema como ela é. Ora, Fiama não traduz nem representa a Natureza, porque este é produzido num estado consciente, ou melhor, o poema é a racionalidade do momento originário, alimentado pelas imagens de Naturezas calmas . Assim, o tormento tatuado em cada verso é uma penitência que a poetisa cumpre quando se sente obrigada a descolar o ventre da grande mancha/ de água para compor o poema. A lucidez a que obriga essa composição transforma-se numa claustrofobia que se manifesta em relação à materialização desse momento de amálgama verde, verde . Estamos, então, perante versos panteístas que nascem de uma fusão implícita do sujeito poético com a Natureza. Esta filosofia tem por princípio que toda a diversidade de seres é uma ilusão dos sentidos que tende a ver diferenças onde só existe igualdade. Por isso é que a poetisa existe com a Natureza, uma vez que tudo é uma manifestação de uma mesma energia cósmica, já como para Espinosa a lei suprema da realidade única e universal é a necessidade. Desta forma, tudo é necessário na natura naturata. Deus não só é racionalmente necessitado na sua vida interior, como se manifesta sobretudo no mundo em que, por sua vez, tudo é necessitado: a matéria e o espírito, o intelecto e a vontade.
Apesar de assentarem em algumas diferenças, panteísmo e Zen convergem, na medida em que o sujeito poético não recusa a socialidade tout court, esta recusa manifesta-se ao nível de uma socialidade conformista para procurar uma outra, mas espontânea, cujas relações se fundem numa adesão livre e feliz, cada um reconhecendo o outro como parte de um mesmo corpo universal. Contudo, a filosofia Zen vinha esclarecer que o universo, como um todo, é mutável e indefinível; tendo em conta que a ordem dos acontecimentos é uma ilusão. Por esse motivo, a divindade está presente na viva multiplicidade de todas as coisas.
Apesar de assentarem em algumas diferenças, panteísmo e Zen convergem, na medida em que o sujeito poético não recusa a socialidade tout court, esta recusa manifesta-se ao nível de uma socialidade conformista para procurar uma outra, mas espontânea, cujas relações se fundem numa adesão livre e feliz, cada um reconhecendo o outro como parte de um mesmo corpo universal. Contudo, a filosofia Zen vinha esclarecer que o universo, como um todo, é mutável e indefinível; tendo em conta que a ordem dos acontecimentos é uma ilusão. Por esse motivo, a divindade está presente na viva multiplicidade de todas as coisas.
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